sexta-feira, 16 de abril de 2010

Não coloque o pé na janela sem estar prevenido

A sensação de não ter solução, cega a nossa visão do futuro. Não tem jeito, é a palavra que mais se destaca nessa hora. Por que insistir se já sei o final da história. Tudo que vai acontecer, daqui pra frente, em nada vai me favorecer. Já vi e revi todas as possibilidades, só vejo uma saída, pular pela janela.
Não vou deixar uma carta com lamentações, como é de costume, simplesmente farei o que decidi. Vão dizer que é covardia, que fui precipitado, que Deus tem solução pra tudo. No meu caso eu não vejo assim. Não sou analfabeto ou imbecil, que não percebe o que está se passando comigo e ao meu redor. Sei das dificuldades, dos problemas envolvidos, e que é incurável. Já vi muitos casos iguais que não foram resolvidos.
Basta, vou pular!
- Onde estou? Com certeza não é a minha casa. As paredes são tão branquinhas, dando uma sensação de paz. A luz do sol entra pela fresta de uma pequena janela, bem perto do teto. Não fosse a dor que estou sentindo, eu diria que estava no céu, ou mesmo, no paraíso. Raramente lembro ter sentido tanta calmaria assim, em toda a minha vida. Doem muito, as costas, as pernas, os braços. Parece que um trator passou por cima de mim.
- Bom dia! Como está?  Uma mulher de branco me pergunta. Agora percebi, estou num hospital.
- Como cheguei até aqui? Perguntei, praticamente sabendo a resposta.
- Você tentou se matar. Ela respondeu.
Pronto, não vou perguntar mais nada, me lembrei de tudo. Acho até que riram muito de mim apesar de estar com a perna quebrada, com várias escoriações nas costas, no peito, com os braços “ralados”, etc...
E o problema que não tinha solução? Vai continuar assim até eu ficar bom desses que arrumei.
Era madrugada, depois de um pesadelo, acordo assustado, penso na vida que estou levando, nas dificuldades que estou enfrentando e resolvo me matar, pulando pela janela. Por uma fração de segundos, esqueci que estava no primeiro andar de um edifício de vinte andares. Dava até pra morrer, dependendo do tipo da queda, mas caí de um modo que deu pra chegar com vida neste hospital.
Continuo com os problemas antigos, que me fizeram fazer esta besteira, ganhei mais alguns, e decidi, de uma vez por toda, que nunca mais vou colocar o pé na janela, pra pular, sem antes tomar um veneno fulminante. 

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